"Movidas pela curiosidade profissional, acadêmica, científica e pessoal nosso grupo, MultiplicaSSAN, se propôs a estudar o que estava se passando na vida de parte dos brasileiros e brasileiras com relação às mudanças na comensalidade durante a pandemia. Assim, a partir da produção de um mapeamento on-line, divulgado em 2020, que buscou entendem como o isolamento social alterou as formas de comensalidade, organizamos diferentes conversas e reflexões que culminaram na produção final de um relatório final com os resultados da pesquisa e reflexões sobre [novas] formas de comer e comensalidades, emergidas no contexto da pandemia."
No final de 2019, a humanidade foi surpreendida com a chegada de notícias sobre um novo vírus patógeno, identificado na cidade de Wuhan, na China. A contaminação pelo vírus, que ataca principalmente o sistema respiratório, rapidamente ultrapassou as fronteiras do país, e em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a pandemia de Covid-19, obrigando os demais países a tomarem medidas preventivas para conter a doença.
A necessidade de distanciamento social e novos cuidados alterou a rotina das pessoas no mundo todo e no Brasil não foi diferente. Dentre uma série de mudanças nas práticas cotidianas e comportamentos sociais, a alimentação foi uma das dimensões profundamente afetadas perante as recomendações para o controle da Covid.
Além do conjunto de ações (micro)biológicas, enfatizadas nas orientações sanitárias de cuidados e técnicas de manipulação e preparo de alimentos, o compartilhamento, a reunião e a partilha da comida também foram identificados como "fatores de risco" para o contágio, promovendo adaptações às práticas e comportamentos alimentares. Comer é uma das atividades cotidianas mais frequentes da vida. Com o início da pandemia e das medidas de prevenção e controle, para muitas pessoas esse ato passou a ser algo planejado, pensado e cuidado como não era antes, ou pelo menos, não com tanta frequência ou intensidade. Para as pessoas que não cozinhavam, isso pode ter se transformado em um "problema" pois, tudo que estava na "rua" passou a ter risco de contaminação, incluindo a alternativa de "pedir comida" de fora. Na lógica desta reflexão, cozinhar em casa, além de necessidade básica de sobrevivência, virou uma opção de menor "risco". Esta é apenas uma das nuances relacionadas à alimentação para a qual lançamos nosso olhar para perceber e refletir sobre as mudanças provocadas pela pandemia.
Movidas pela curiosidade profissional, acadêmica, científica e pessoal nosso grupo, MultiplicaSSAN, se propôs a estudar o que estava se passando na vida de parte dos brasileiros e brasileiras com relação às mudanças na comensalidade durante a pandemia. Assim, a partir da produção de um mapeamento on-line, divulgado em 2020, que buscou entendem como o isolamento social alterou as formas de comensalidade, organizamos diferentes conversas e reflexões que culminaram na produção final de um relatório final com os resultados da pesquisa e reflexões sobre [novas] formas de comer e comensalidades, emergidas no contexto da pandemia.
Comensalidade em Tempos de Pandemia de Covid-19
Sessões Virtuais
As sessões virtuais para discussão sobre Comensalidade em Tempos de Pandemia foram as primeiras atividades realizadas após a divulgação dos resultados preliminares do mapeamento que realizamos ainda em 2020. Nossa ideia foi juntar diferentes pesquisadoras da alimentação para refletir e analisar os aspectos sociais, culturais e políticos relacionados a comensalidade.
Assim, Inara Nascimento, Fernanda Barrios, Lígias Amparo e Denize Ribeiro foram nossas convidadas para conversar sobre Comensalidade em Tempos de Pandemia, o que resultou em duas sessões virtuais públicas que geraram muitas reflexões sobre os modos de comer, cozinhar e as relações envolvidas.
Relatório Final
O Relatório Final sobre Comensalidade em Tempos de Pandemia, realizado pelo MultiplicaSSAN em parceria com a FioCruz Brasília, foi lançado em Maio de 2022 durante o V ENPSSAN (Encontro Nacional de Pesquisadores em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) e pode ser baixado clicando neste link.
O relatório reúne os dados quantitativos e qualitativos analisados a partir do mapeamento on-line realizado durante o isolamento social da pandemia, ainda em 2020, em conjunto com diferentes discussões e reflexões pertinentes. Como colocado pela pesquisadora Denize Oliveira Silva no prefácio do mesmo:
"Os dados apresentados se expressam como adjetivos da conjuntura pandêmica vivida pela humanidade, como espelhos que refletem as possibilidades encontradas por todo nós para viver esta pandemia global. Tem flexões de gênero, número e grau, porque relaciona os efeitos de bem ou mal estar de comer sozinho e/ou em companhia em casa ou fora do trabalho por força de obrigação de atendimento às medidas sanitárias de isolamento social individual ou em coletividade. Somos instigados a refletir sobre o cozinhar e o comer que demandam espaço físico e novos papéis individuais e coletivos de atribuições para as relações de comensalidade. Como a mudança de rotina que, ao mesmo tempo, trouxe ansiedades, mas também apresentou novas possibilidades para a valorização de pertencimentos, tão massificados pelas sociedades industriais. E de memórias culinárias afetivas que se revelaram como possibilidades viáveis de construção e resgate, por meio da criatividade existencial narrada como tática de lidar com o cozinhar e o comer nas relações de comensalidade."